Uma árvore de beira de rio fica no seu lugar, assistindo a corrente das águas, o batuque dos peixes, o descer das moitas, dos galhos soltos, das folhas, o movimento dos barcos. Ora a água se abarrenta, ora fica translúcida. Os peixes, as piabas se entrecruzando, as pedras comandando os remansos. O tempo vai e vai, e ela lá, vendo o rio se aproximar quebrando o barranco, provocando o afloramento de suas raízes. Mas o rio é o mesmo, com os mesmos batuques de peixes, com as mesmas aves voando e moitas descendo.
Na escola, eu ali, os alunos chegando, os alunos saindo. As mesmas vozes, os mesmos gritos, os mesmos passos, gestos e inquietações, os mesmos aborrecimentos, aquele monte de corpos adolescentes carregados de energia. Os alunos como as águas do rio: a permanência do que passa. A multiplicidade de seus rostos formando uma cara eterna: a cara de alunos. Os nomes? Minha memória não os guarda. Sempre conheci meus alunos pela cara. Um ou outro é mais saído, tem nome, que logo a ferrugem do tempo corrói, e ele volta ao anonimato, diluído na composição da face geral.
Os alunos sempre passantes em multidão, ano a ano, pelo mesmo lugar. Eu ficando, ficando. Acabei me assumindo como se assumiria uma árvore de beira de rio. Mas de um rio tormentoso, devastador das árvores das margens, em degeneração.
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